segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

matemática

31 anos
7 horas que parecem 12
3 dias que parecem 1 vida
3 semanas, 1 vida
50 horas de ida
50 horas de vinda
3 fusos
1 semana de espera
7 dias de recompensa
13 dias de saudade
2 mensagens de alento
1 café com 4
1 corte
2,3, todos menos 1
1 certeza:
com 2 pernas escolho ir longe


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Paradoxo

Então a bailarina descobre que é hora de experimentar mais um solo...

Bem que ela tentou fazer montagens em trios, grupos, principalmente em duos. Estes últimos tiveram dela toda atenção e cuidado.


São montagens paradoxais - diz a bailarina.
 Ao mesmo tempo em que a equipe é simplificada, o nível de exigência da dança se torna ainda mais complexo. 
Mas não são as especificidades das montagens o que não agrada à bailarina, sinceramente. Mas o fato dela se sentir (quase) na obrigação de se lançar novamente em um solo. 

Outro paradoxo.

Enquanto sente que precisa dançar só, uma parte dela deseja estar em equipe.
Uma luta entre consciente e inconsciente.

Ora, então não é tudo isso um imenso paradoxo? 
Parece mais brincadeira da vida para testar a fé e a febre.

O que lhe dói (e dói no corpo, dói na alma, dói na consciência) é que havia encontrado partners maravilhosos. Tudo parecia indicar que um duo belíssimo surgiria ainda este ano. E ela, lá no fundo, desejava muito que isso acontecesse. Parecia-lhe que concentrar sua atenção, sua dedicação e seu amor em um duo seria muito mais proveitoso neste momento a seguir em montagens de grupos...aquele tanto de gente, aquele tanto de opinião...
Cada um com dos partners, entretanto, chegou com seu grupo de técnicas muito bem desenvolvidas. Todas elas se encaixavam às técnicas da bailarina, de algum modo. Afinal de contas, é também parte do treinamento de um dançarino se adaptar ao outro.

Em fim...

Embora esta parte estivesse de acordo, algo faltava. Também este "algo" se diferia entre um partner e outro, mas ainda assim era o suficiente para não seguir com a montagem.

"Tão bom com os giros, mas não é bom com as carregadas"
"Tão bom com as carregadas, mas não é bom com a leitura musical"
"Tão bom com a leitura musical, mas não entende o contexto da obra"


E assim, um a um, foram mostrando à bailarina que é hora de se fazer entender sozinha, no quebra-cabeças que é uma montagem, nas angústias e nos prazeres que são uma montagem, e na alegria e no pânico que são o palco. Outro paradoxo:

O palco é o lugar de maior destaque e de maior exposição. Aquilo que pode ser um momento de glória, pode também ser um momento de desastre.



"Momentos!

Claro!
Tão óbvio!

Momentos! Tudo são momentos. A eternidade é fragmentada. Tudo tem seu começo, meio e fim.
É tão simples!

Agora é o MOMENTO de dançar sozinha. E quem disse que se faz uma produção sozinha?
E se eu não puder contar com os técnicos? E se não puder contar com os produtores? E se o público não for?????????????"

E foi neste momento que a bailarina se deu conta de que dançar sozinha era mais um dos paradoxos e mais uma das metáforas da vida.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Renascimento e Brasil - 1500

Há um ano estive na exposição sobre o renascimento na Itália, lá em SP, e fiquei pensando numa coisa:
Em 1500, enquanto o Brasil estava sendo descoberto, a galera na Europa já estava quebrando tudo em altíssimo nível!
Aqui, ainda havia índios. Povo sofisticado no que diz respeito ao conhecimento da natureza e aquilo que é intuitivo. Uma pegada mais complexa em sua essência, mas simples em sua execução e apresentação, por assim dizer. O povo caçava, pescava, plantava e colhia, preparava os alimentos, se reuniam para dançar, celebrar, adorar aos seus ancestrais, etc. Mas, eles não conheciam as milhões de outras formas de uso desta mesma natureza que o "homem moderno" havia descoberto até então - e que já era muita coisa. Galera na Europa estudava astrologia, astronomia, filosofia. Estavam desenvolvendo o intelecto - outra faculdade do corpo.

Trazendo isso para a dança, (ainda não tenho este raciocínio todo bem elaborado mas, vamos lá), fico pensando nas danças urbanas norte-americanas e a possibilidade de liberdade de uso do corpo que este estilo trás pra quem o pratica.E vejo que o mesmo se passa com as tribos do mundo todo. Diferente das danças acadêmicas, que teorizam tanto que tornam a dança mais mental que física, nas danças urbanas dança-se e pronto. As pessoas ouvem a música (e para eles necessariamente tem que haver música), essa música toca essas pessoas tão profundamente que só então é que elas se mexem (e mexem muito!!!). Quando um praticante resolve que quer se profissionalizar nisso, só depois de muita prática autodidata é que ele vai estudar numa sala de aula tanto a técnica quanto a teoria. No contemporâneo, como estudamos filosofia, física, matemática e história da dança, além das técnicas corporais, adquirimos muitos recursos que fazem o corpo dançar, independente de "sentir algo mais profundo" ou não. Nós não precisamos de música, de momento certo, lugar certo, roupa certa, nada. Podemos executar a dança a qualquer instante, sob qualquer demanda. Somos treinados para isso nas danças acadêmicas; principalmente na dança contemporânea. Entretanto, percebo que a autenticidade se perde. Chamo de autenticidade o discurso de Pina "o que te move e não como move". Resumindo: Se dança dançando. Se caça, caçando. Se planta, plantando. Se canta, cantando. E por aí vai. É possível aprofundar em cada um destes pontos? Não só é possível, como o fazemos. E é extremamente importante. Não nego nada disso.
Mas, é de fato necessário teorizar e aprofundar tanto em tudo?
Às vezes sinto falta de só plantar, ou só dançar.
Me ajudem a pensar esta questão?

domingo, 4 de maio de 2014

Novo partner

A bailarina percebe que precisa mudar algumas coisas no seu velho teatro.
Trocar as cortinas, reformar a poltrona da plateia, modernizar o sistema de iluminação, contratar novos técnicos...

E o faz.

Reforma pronta, a bailarina toma posse de seu novo teatro. E desta vez, ela pode sonhar com espetáculos mais ousados e até um novo partner.

Um partner...

Ainda apegada ao seu anterior parceiro de coreografias, ensaios e apresentações, a bailarina precisou de um tempo de férias para colocar em prática aquilo que já havia entendido com o seu coração: você precisa dançar com outro par.

Lhe custou um pouco. Alguma coisa dentro dela a impedia de procurar por novos bailarinos. Arranjava justificativas, cogitou seguir em carreira solo algum tempo mais. E quando estava distraída...num abraço ela reconheceu seu novo par.



Tudo novo de novo no teatro da bailarina. Agora, com mais luz.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

INVASÃO DE DOMICILIO

A bailarina se pega tendo multi-sensações, hora sorrindo, hora arregalando os olhos, hora estalando os dedos, hora apertando seus braços...

Ela não pode crer em tudo o que acontece diante dos teus olhos nus.

Gente na janela, parecendo aquelas telas em que a gente se põe caolho pra enxergar em 3D.
Gente se movendo pelas paredes como se fossem molduras vivas.
Gente que sai do boxe do banheiro com pernas longas, delineadas, dançantes.
Gente que aparece atrás da casa trepando nas grades, enquanto estou do lado de dentro vidrada no duo de tango que nasce ali.
Criança borboleta.
Adulto vaso de flor. 
Jovem namoradeira.
Tinha até um guitarrista!!!
Parece que este pessoal não gosta do chão normal. Para eles mureta era chão, janela era chão, sofá era chão, tanque era chão.
E por falar em tanque, a bailarina se escorou na porta para observar a moça que, sentada no tanque, banhava a si mesma com tanto cuidado e calma, que mais parecia uma pintura sendo criada ali...
Auto-colo. Poético.

A moça que foi escorregando porta abaixo, até se colocar esparramada pelo chão, cantando algo lindo de viver, mas que não me recordo agora, trajada de branco e com pés de pássaro...
Que moça!
Tão alta quanto bela. Tão grande quanto expansiva. Tão bela quanto seu quanto.

Era gente vaso, gente flor, gente vinho, gente luz, gente vento, gente ira, gente grade, gente ternura, gente amor, gente...

A bailarina está encantada!











quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Signos dos sonhos da bailarina (parte III)

Ainda é noite, e a bailarina está em uma rua escura e deserta, em algum ponto isolado de uma cidade qualquer.
Está com toda sua família. 
Todos sempre calados, apenas se entreolham. Há conexão entre eles. Se reconhecem como sendo do mesmo clã, mas não há apego entre eles e a bailarina. 

Quando cai em si, a bailarina se dá conta de que está em um castelo do terror, prestes a iniciar o trajeto que só lhe trará sustos, medos, descontroles.

Num surto, ela retrocede o caminho, aliviada por ainda não ter ingressado no circuito efetivamente, saindo por uma porta lateral com uma escadaria enorme, reconhecendo aquele ambiente.
"Já estive aqui mil vezes!"

Alguns dos funcionários locais tentam puxar a bailarina pelo braço, num gesto automatizado, sem saber o que queria ela. Todos naquele lugar portam fantasias. Todos. Inclusive a bailarina estava de figurino, tinha o rosto pintado. 
Felizmente, a bailarina chega ao saguão de entrada do local e busca apressadamente calçar os sapatos (que não estavam em pares). Calçava o pé de um, tentava o pé de outro... "é salto, pode me prejudicar caso eu precise correr". Então, ela avista outra pessoa que havia desistido do circuito com a mesma urgência de sair dali. A argentina companheira da escola de dança perto das montanhas. "Que curioso vê-la aqui. É a primeira vez. Bom... Ela é conhecida. vou me unir a ela."

Subindo já as escadas, a bailarina se deixa ver pela argentina que, instintivamente, apressa-se em calçar suas sandálias e juntar-se a ela.

Já na porta de entrada para aquela arena de horror, um dos funcionários do local abora a bailarina perguntando se ela queria entrar no circuito. 

Com um tom de orgulho a bailarina responde:
"Não. Não quero entrar neste castelo do terror desta vez. Vou assistir de fora."

Ao que o funcionário a apontou a enorme plateia que se situava em camarotes verticais.

Esta resposta não saiu mais da cabeça da bailarina: Não vou entrar mais aí. Vou assistir de fora agora. 

A consciência da escolha elucida. Revela que aquilo não passa mesmo de cenário e encenação. Não há o que temer, se é fantasioso. 

Real é mesmo aquilo que escolhemos ser.